poeta b.
poeta bom
tem T.O.C.
/
Transtorno na
Ordem
Crítica
poeta bom
cansa de tudo rápido
e muda a palavra entediada
poeta bom
é da pá
lavra
revirada
poeta bom cansa de tudo rápido
e muda a palavra entediada
"as coisas importantes
vão
e
voltam"
se eu não represento
não me apresento
não tenho culpa
se é parco
o seu muito
espinhas são coisas portáteis
que o corpo carrega
cheias de pus
são lembranças
que ainda adolescemos
depois da meia idade
depois da meia vida
e sangram
e cicatrizam
e marcam a pele
mais velha
que agora
demora
para se lembrar
do antigo
que foi
um
dia
essa flor roxa
do meu perfil
não carrega nunca
/
ela significa
tudo o que não
floresceu
e que não deu
sinal
de
vida
geografia do sono
da topografia dos sonhos
a cordilheira é leve
e os rios mais calmos
a não ser os pesadelos
que são
terremotos
que lembram
a hora
de acordar
descasco-me desta pele
e fico só com os ossos
do
ofício
de
poeta
eu estava dentro de você
e fui arrancado como um ritual
sangrento
naquele momento
nem respirar eu pude
mas agora entendo
o fórceps da situação
sair de um lugar
às vezes
nos poupa de algum tormento
o anticristo
é antevisto
atropelado no meio da rua
ou atirado de algum prédio
em construção
esmagado por uma prensa
pede socorro
em
vão
na vida intensa
todos se desentendem
menos os poetas
cubro de infinito
o pensamento
e alinhavo essa tristeza
dos meus olhos que não me contam
mais de tanta certeza
mas eu tenho ainda a sorte
de não ter que ver um todo
e o pouco que avisto
é só mesmo
o que interessa
o amor é um ofício
concluído
por peritos
desastrados
eu escrevo aos poucos
pedaços
que me atravessam
pela jugular
só não morro
de uma hemorragia
interna
porque as palavras intensas
são estanques
e curam
qualquer corte
profundo
negar a dor é perder a vida
o escondido aparece
intacto
só pertencemos ao espelho
enquanto
reflexos
permanecer
é estar quieto
entre aspas
a vida
às vezes
se vê dobrada
origami
/
não se
engane
ficaram insetos
para desenhar pássaros
nos bicos
no alto das pedras
e no alto dos cimos
voaram tão alto
que acabaram perdidos
depois dos ensinamentos das nuvens
até o fim do azul
um pouso do céu
foi necessário
e o chão sarcástico
no pouso livre
cedeu
eu te disse
antes de dormir
que o sonho
são as unhas do tempo
e existe o sonho que vai
e o sonho que volta
um é antes do sono
o outro é a realidade
que acorda
o céu impermeável
como seus desejos opacos
subvertem o dia
costura sol
dentro do peito
com camiseta
rasgada
do lado inverso
escreve chuva
e deságua
"sentir os calores do medo
tocar o medo com as pontas dos dedos
deixar o medo sem língua
arrancar os dentes do medo
e mastigar no café da manhã"
Déa Paulino
a raiva alinhavada
diz que é difícil
morrer
um encontro
é quando rachamos os espinhos
dentro da boca
e ficam difíceis
as palavras
é que o primeiro lapso
nos invade às pressas
nada que possuímos
sobrevive ao que falamos
e nesse diálogo
soldamos as carnes
mesmo quando sozinhos
guardamos segredos
com muitas mãos
te espero
depois
da última
cena
de
cinema
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