sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

dos impasses...

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"São o pé calçado 
pronto para o 
delirium ambulatorium renovado 
de cada dia" 

Hélio Oiticica
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voice moaning in a Japanese car
the smell of rubber on concrete tar
hindsight done me no good
standing naked in the back of these woods
the cassette played
poptones

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"Dentro da minha cabeça
Mora uma penca de gente
Que fala pela minha boca
Subloca meu pensamento
Faz o que bem entende
Penca de gente louca"


Tete Martinho


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você lembra do momento em que se tornou quem você é?
eu me peguei pensando nisso
sabe o momento que decide
como nós vamos ver o mudo?
eu não lembro muito bem como aconteceu comigo
só me lembro de janelas
elas são molduras
quadrados de luz
janelas são coisas vivas
cada moldura implora por uma história
eu tento me adaptar a cada uma delas
acho que eu prefiro escadas
ou mais fácil ainda
elevadores
a minha impaciência
me faz preferir as coisas mais rápidas
pessoas profundas com textos curtos
sem confundir ou enrolar
não digo nem as pessoas objetivas
algumas chegam à frieza profunda
prefiro as simples
de olhar rápido e palavras certeiras
com um certo humor inteligente
por isso me agradam
as janelas próximas ao chão
sem subterfúgios
diretas
daquelas de correr
sem trincos
e as casas


ah! as casas?
todas as de portas abertas!

👀👀👀👀👀👀👀👀👀

"O solo da paixão não dura mais
que um dia antes de afundar, não mais
que esta noite ou esta noite e um dia
e o clarão da noite antes de amargar.
Um dia solar eu vou lhe entregar:
Que ela sequestre o mundo por um dia
(um dia só será que já vicia?)
Depois devolva tudo: terra céu e mar."
Antonio Cicero. "Solo da paixão".
In:_____. Guardar.
 


👀👀👀👀👀👀👀👀👀

underwater
"você tem que se amar antes de amar o outro"
perdi as contas de quantas vezes ouvi esta frase nos últimos anos
ignorando todos os sinais 
e dizendo que a superfície era mais segura
e confortável que um mergulho
(interno)
até que em algum momento
o ar dessa superfície me deixou tão sem fôlego
quanto pular nas profundezas
eu
que nem sou fã de músicas sentimentais
me vi cantarolando bestamente coisas do tipo
o poço não é tão fundo
super-homem não supera a superfície
saltei
mergulhei
estou mergulhando sempre
trágico é evitar o mergulho
tem vezes que consigo descer mais
não é tão escuro quanto parece
não é tão assustador
não é muito bagunçado
é apenas um lugar com muitos espelhos
mostrando sombras que são nossas
a primeira lição é
que além de amar o outro antes de si mesmo
também é preciso parar de projetar
nossas sombras no outro
e aqui
eu agradeço à sabedoria desenfreada
da
paixão
espero não voltar à superfície tão cedo

👀👀👀👀👀👀👀👀👀

coisas que se olham
demoradamente

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o difícil se faz logo 
e o impossível 
logo depois

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vésper

logo ali
ao cair
da
tarde

logo ali
perto
de
Marte

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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

das barras...



"Inscribis chartae, quod dicitur Abracadabra:
Saepius et subter repetas, sed detrahe summae,
Et magis atque magis desint elementa figuris:
Singula quae semper rapies et coetera figes,
Donec in angustam redigatur litera conum.
His lino nexis collum redimire memento."























logo ali
ao cair
da 
tarde
/
e caem sobre ti
os cães
/
que late não morde
até segunda onda
ordem dada
aos dentes
e ossos

/
baseado
em
atos
reais

/
acreditem:
uma pessoa calada é alguém que já deixou de amar
essa nossa necessidade de falar as coisas, 
de explodir e dramatizar é só uma forma de dizer 
"eu estou aqui, estou tentando"
porque
quando o silêncio chega
a vontade de tentar já se foi!
/
sem sol
ainda

/
calor e magma
/
lava das páginas 
que ainda o desejo de ler 
não derreteram

/
quase
a espera
a espetar
o
tal
amor

/


desescrevo
em alma
e moro
em abraços
quentes
/
tempo é o que vem
o que foi não tem
/
nós arcanjos
nos arranjamos
só quando amamos

/
1000 não-lugares para visitar antes de morrer
/
insone blues

onde os lençóis 
não são
azuis
/
herbário
à sombra da terra de origem
desvaneceu-se
são como fiapos de nuvem
entre montanhas amenas
percursos de estradas de terra
e muitos anos inteiros
um salto
interplanetário
entre estrelas
apenas entrelinhas
o sortilégio de um rio antigo
as fontes exauridas do fluxo vital
os papéis entrelaçados desde um tempo
de mais esfumada lembrança
enredos transgressivos
possivelmente ancestrais
é como um de-ene-ah-pagado
tudo se tornou longínquo
lendário:
material para um romance
para um devaneio solitário
/
mutatis mutandis
homem de bem
homem de bom
homem de bomba
/
solar
sonhar
amar
entre
raios
e
aspas
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"Pegadas
O vento apaga as pegadas das gaivotas.
As chuvas apagam as pegadas dos passos humanos.
O sol apaga as pegadas do tempo.
Os contadores de história procuram as pegadas da memória perdida, do amor e da dor, que não são vistas, mas que não se apagam.
.......
Elogio da viagem
Nas páginas de As Mil e Uma Noites, se aconselha:
– Vai, amigo! Abandone tudo e vai! Para que serviria a flecha se não escapasse do arco? Soaria como soa o harmonioso alaúde se continuasse a ser um pedaço de madeira?
.........
Os livres
De dia, são guiados pelo sol. De noite, pelas estrelas.
Não pagam passagem e viajam sem passaporte e sem preencher formulários na alfândega e na imigração .
Os pássaros , os únicos livres neste mundo habitado por prisioneiros, voam sem combustível , de polo a polo, pelo rumo que escolhem e na hora que querem, sem pedir licença aos governos que se acham donos do céu .
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Os náufragos
O mundo viaja.
Carrega mais náufragos que navegantes.
Em cada viagem, milhares de desesperados morrem sem completar a travessia ao prometido paraíso onde até os pobres são ricos e todos moram em Hollywood.
Não duram muito as ilusões dos poucos que conseguem chegar.
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O vento
Espalha as sementes, conduz as nuvens, desafia os navegantes.
às vezes limpa o ar, e às vezes suja.
às vezes aproxima o que está distante, e às vezes afasta o que está perto.
invisível e intocável .
Acaricia você , golpeia você .
Dizem que ele diz:
– Eu sopro onde quiser.
Sua voz sussurra ou ruge, mas não se entende o que diz.
Anuncia o que virá ?
Na China, os que preveem o tempo são chamados de espelhos do vento.
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A viagem do arroz
Em terras asiáticas , o arroz é cultivado com muito cuidado.
Quando chega o tempo da colheita, os talos são cortados suavemente e reunidos em ramos, para que os ventos maus não levem sua alma embora.
Os chineses das comarcas de Sichuan recordam a mais espantosa das inundações havidas e por haver: ocorreu na antiguidade dos tempos e afogou o arroz com alma e tudo.
Só um cão se salvou.
Quando finalmente chegou a vazante, e muito lentamente foram se acalmando as frias das guas, o cão conseguiu chegar até a costa, nadando a duras penas.
O cão trouxe uma semente de arroz grudada na cauda.
Nessa semente, estava a alma.
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O respirar perdido
Antes do antes, quando o tempo ainda no era tempo e o mundo ainda não era mundo, todos nós ėramos deuses.
Brahma, o deus hindu, não conseguiu suportar a competição : roubou de nós o respirar divino e o escondeu em algum lugar secreto.
Desde então , vivemos buscando o respirar perdido. Procuramos no fundo do mar e nas alturas mais altas das montanhas.
Lá da sua lonjura, Brahma sorri.
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As estrelas
Nas margens do rio Platte, os índios Pawnees contam a origem.
Nunca dos nuncas os caminhos da estrela do entardecer e da estrela do amanhecer se encontravam.
E quiseram se conhecer.
A lua, amável , acompanhou as estrelas no caminho do encontro, mas em plena viagem atirou-as no abismo, e durante várias noites riu até gargalhar por causa da
brincadeira.
As estrelas não desanimaram. O desejo deu força a elas para subir lá do fundo do precipício até o alto céu.
E lá em cima se abraçaram com tanta força que já não se sabia qual era qual.
E desse abraço imenso brotamos nós, os caminhantes do mundo."
O Caçador de Histórias

Eduardo Galeano
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“Muitas coisas têm que ser destruídas para edificar a
nova ordem….minha carne pode ter medo; eu, não”.
Jorge Luis Borges (“El Aleph” - Deutsches Requiem)
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“O falso juízo e o erro residem sempre no que as
opiniões acrescentam às sensações”.
Epicuro (“Carta a Heródoto”)
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"Solo basta un segundo para que todo cambie. Una terrible sensación que invade el cuerpo y que lo apuñala cruelmente. Un estallido emana de tu interior y todo a tu alrededor es gélido. La brecha que provoca el dolor es demasiado grande. El mero hecho de vivir deja secuelas"















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EXPERIMENTAL - Dominância de Superior Direito
Tem insights, imagina, especula, corre riscos, é impetuoso, quebra regras, gosta de surpresas, percebe oportunidades.
Gosta de arriscar-se, inventar soluções, desenvolver uma visão, ler variedade, fazer projetos, causar mudanças, fazer experiências, vender idéias, desenvolver novidades, ver o quadro geral, ter muito espaço, integrar idéias, lidar com o futuro, enxerga o fim desde o começo, é visual.














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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

dos meridianos...

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“todo mundo encontra o que lhe diz respeito no Templo: 
os camponeses veem galinhas e frangos; 
os cientistas, os signos do zodíaco; 
os teólogos, a genealogia de Jesus; 
mas a explicação, a razão, 
só os competentes conhecem, 
e não devem ser divulgadas.”

Gaudí - hermetismo


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vim da Fênix do próprio Inferno de Dante não procuro nenhuma amada ou amado procuro um quadro ou moldura para me desajustar o justo não me pertence e o que me aperta incomoda o incômodo do agora é um branco eu mudo a cor de propósito vermelho verde siga permanentemente persiga a palavra precisa o tempo é o que importa? atrás de cada relógio um ponteiro perdido eu me perco na demora das coisas até que se eu me dispusesse assim a dançar como escrevo seria uma dança eterna um poema nos pés amarrados com as linhas das palavras como cadarços soltos no perigo de um tombo se pode ser assim com um corpo cada corpo vivo porque não pode ser com as palavras? cada palavra um membro cabeça troncoração fígado rim meus deuses quantos corpos quantos deuses e nenhum reza por mim? eu sou só um coração será que na dança das palavras onde rezo os deuses me inspiram e recebo ordens da musa da intuição? se são só perguntas esclareço até onde eu vejo vermelho fogo pego num verde sigo e cresço já é a página terceira e um terceiro olho não veio já sem óculos revejo e penso em ler todo o texto mas tenho que continuar com as palavras ensimesmadas escapando do que me consome mas saem em disparada como frutas no papel carbono-mácula esse pomar que toma conta feito erva daninha mas na verdade queria um incêndio para acabar com o que me afronta depois de tudo isso eu paro por minha conta porque escrever também tem horas que desaponta (pausa para a água)





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dorgas
é uma questão de lertas

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não saber se está a se completar 
ou a  se consumir
contradizer
o enrubescer sobre o alaranjar
em que paira o escurecer que trovoará
ou que já terá se acalmado
contrapor
confundir pelo vibrar que colore
confrontando o estável estar
que o contorna
solar e lunar de uma vez
queima e apaga num só
dentro
flamejante
vermeluz
ilumina
expandindo para fora
ao redor
cresce
ensombreado
ao emergir
tensionando
enegrecer
um pulsar-obscurecer
que acalenta
atrás, para frente
vermeluzir
contínuo
amparando  que assombra
e escora o que brilha
tênue diferenciar colorido
deixa-se perceber
ondulado
corpóreo
entre vermelhidão
e escurecido
amarronzado
limítrofe traçado transforma
a corpulência
em um encadeado
montanhoso
rochoso
quem sabe
torna-se progressivamente
mais escuro para encontrar-se
com o iluminado
intenso
impetuosamente despojado
disforme
manchado
incisivamente desprendido
do fulgurante linear
livre na espaçosa alvura
ascendente nebuloso
como um pesado
brumado
solto ao esmo
fugitivo do constante
anoitece afundando
através do que neblina ao redor
crepuscular turvo
recobre-se pelo incandescente
ocaso
pincela e recobre sem olhar
ao redor
terrosa
quase esfarela-se
adensa e infla
interrompe o expandir
como se minguante
fosse
amanhece graúdo florescer rosáceo
ou vibratório
gerador de ondulante sequencial energético
quase concêntrico
o espiralado cheio de amarronzado
terroso do natural
o insistente arredondado
irremediável
inconclusivo
abstrato
porém passível
de múltiplos
interpretativos
figurativamente
claro
outro lugar
do branco
algum espectro indizível
a luz indomável
a terra clama cores
pela águarco-íris
tramada horizontal
interrompida/
ferrosa/
rítmica/
sugestiva/
dinâmica/
intermitente
ao mesmo tempo
massiva enegrecida
estruturante
quase vertical
mas inclinada em arco
e intercalada
em agitados escarlates
fatiado/
lacunar/
central/
entre vertical e horizontal
desposicionado
de propósito
que agora semi-recorta
circulando discreto
espiralado
arredondado
em elipse
delineado
pelo que falta
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