quarta-feira, 29 de maio de 2013

das ociosidades...








.
"queria ir do ócio criativo ao ócio recreativo"
Julio Carvalho













































o pássaro impossível
não voa
enquanto suas asas
antigravitacionais
estacionam
no espelho
aparece em noites ensolaradas
com penas de chumbo
mais pesadas que o ar
que qualquer um respira
mesmo assim
invertido
é um jato

E eu lá sou baú velho
para guardar coisa ruim?

hoje
não tenho olhos para a escuridão
não tenho ouvidos para o silêncio
não tenho palavras para qualquer poesia que valha
antes fosse antes
arrumaria
todas as vozes
e luzes e sons
de novo
de modo
indestrutível

vivendo entre
 
o caminho das pedras 
e a via das dúvidas

vezenquando
eu escrevo
para esconder
meu dez
(um milhão talvez)
espero

porqu
ê cinco sentidos 
se às vezes poeta 
sinto mais de um milhão?

eu sou um ou dois ou vários:
alguns para uso externo 
e outros para uso interno

muitas fantasias 
poucas realidades

amora é o sabor do poema
amor é poesia
a morada é a palavra
amarga é a falta

medo e merda s
ão excrementos do corpo

d
úvida é o nome filosófico da vida

(vapor)
vá se vestir
vá pôr uma forma no amor
não precisa
amor é nu

a concord
ância verbal é na frase
a discordância verbal é no grito

h
á quem escreva para expurgar 
há quem escreva para ornamentar
há quem
aquém
além

sem meias palavras
o poeta não quer dizer
o poeta diz
semeias palavras

quem
 
bem 
me 
quer 
não 
me
des
pe
ta
la

come
ço e fim:
você me atende?
sim
você me entende?
não

E no auge do desespero disse:
- Por favor, alguém me deixe acontecer?

surto ou surdo?
- não sei. qualquer dos dois me justifica

depois do amor l
íquido agora o horror líquido
um em conta gotas e o outro em contra golpes

consolo: um caf
é com leite numa vida sem açúcar

pessimista:
estado líquido
realista:
estado sólido
otimista:
estado gasoso
poeta:
estado de esp
írito

tem gente que gosta de sanar as d
úvidas para adoecer as respostas

estalactites
estalagmites
paralelep
ípedos e diamantes
dos homens aos ossos
onde tudo
é pedra

envelheci
queria dar as caras
alcançar o outro lado da minha moeda

a luva:
coisas que caem como uma luva
abra
ços sem preguiça
sorrisos contagiantes
olhos emocionados
amores correspondidos
caem feito uma luva essas raridades
.

sábado, 25 de maio de 2013

das interferências...


.
Me gusta la emoción cruda, no importa cómo venga
iamamiwhoami



interferences
.

entrepontos

.

o amor é gasoso e gozoso
.
ser poeta
é tipo um ciúme da palavra crua
quero cortar, cozinhar, salgar a palavra
tirar o gosto da palavra pura e dar outro tempero
tempero de palavra é poesia
.
boca aberta de criança entra sonho
boca aberta de adulto falta sono
.
quem quase chora n
ão se rende
.
e o choro bateu na "trave do z
óio"
.
da notícia de certas coisas que me incomodam:
prefiro o sil
êncio
das pedras

.


.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

dos revirados...


.

Como todos los soñadores, 
confundí el desencanto con la verdad.
 Jean Paul Sartre
.
tumblr_mmtsrcRaVr1r46py4o1_1280
.

I
palavras são ofícios
algo ofídios,
algo répteis
nos orifícios 
dos poemas

II
a vida não seria um barulho,
um susto
rápido
quando se apaga?

III
fale tudo
ou fale 
nada
faça falta
ou faça
nada
saiba que dentro de cada um
cada um é cada
e cada alma
inacabada
.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

das obrigações...




.
A atividade poética nasce 
do desespero pela impotência da palavra 
e culmina no reconhecimento da onipotência do silêncio.”
Octavio Paz







à lápis


"o poema deve provocar o leitor: 
obrigá-lo a ouvir a ouvir-se
ouvir-se: ir-se. 
para onde?"
o poema tem descaminhos
e quase nunca se sabe onde vão dar
procura-se uma coisa
e se acha outra
o poema
é um mar de segredos.
de significações
.

terça-feira, 14 de maio de 2013

dos itinerantes...

.
"vida de gato em um mundo cão"
Julio Carvalho
.
Rosie-Hardy_9
.
conversas itinerantes
Vinícius Miranda

..............................(interceptado por Julio Carvalho)

sou um filme eternamente clichê
cheio de lugares comuns
e cheio de sentimentos comuns.
como um poeminha clichê:
"no meio do amor tinha um clichê
tinha um clichê no meio do amor"
sinopse: 
a vida acidentada de alguém em busca do reconhecimento pessoal 
através de fragmentos morais 
lidando com a solidão de uma nova responsabilidade social e seus desejos de interação
tudo bem clichê
adicionado de desejos estranhos
insanos
talvez aceitar um copo de veneno e uma desculpa qualquer 
de como o mundo engole as pessoas inteiras
talvez seja precioso
um ficar só necessário
caso
mais alguém me dizer que eu sou forte 
ou que eu tenho de ser forte
vou chorar um mês inteiro
com a impressão  de que as pessoas estão me empurrando para frente 
mesmo que eu diga que talvez  não queira ir
aí então
eu vejo os  homens
- do que são feito os homens?
- são feitos de água e sal.
e sabe pra onde foi todo meu amor próprio?
para todos os lados
todos os sentidos
e juntar está dando muito trabalho
talvez de água e sal falte açúcar
falte interesse
se tem algo que eu sou bom nessa vida 
é enrolar o meu desinteresse 
até que ele pareça interessante
no fundo eu sou uma senhora trintona meio a lá Hollywood 
querendo que o amor me encontre nos lugares mais improváveis
só para poder provar que o amor existe
e claro, depois cuspir que nenhum outro homem me fez feliz
porque é uma frase clássica
mais um clichê
então me vêm as escolhas
quem realmente escolhe?
tenho a impressão de que no fundo quem escolhe sou sempre eu
uma vez uma mãe de um amigo me disse uma coisa: 
o histérico ou mulher é sempre quem escolhe
é sempre quem quer ser seduzido e rejeita ou aceita.
sou mesmo uma mulher trintona brincando de amor
muito surreal
uma mulher de fases circunspecta
eu gritaria pra mim mesmo: "vai viver porra"
mas certamente eu ficaria magoado
mas viver a porra é o que nós mais precisamos
celebrar a dádiva de dar uma trepada sem drama.
me entendo
quase um cordeiro
se eu fosse um filha da puta talvez eu não sofresse metade.
mas a vida me manda ser uma boa pessoa
e eu sou um cordeiro
não sou um lobo
e alguns lobos me consomem
mas eu continuo sendo um cordeiro
criando garras de aço
.

das despétalas...




 .
no meio do amor tinha um clichê
tinha um clichê no meio do amor
.



























.
altamante


mal me quer
bem me quer
bem te quer
mal se quer
quer te mal
quer te bem
quer te zen
quer me bem
quer me mal
bem te ter
mal te ver
qual te ter
quem me quer?
.

domingo, 12 de maio de 2013

das significâncias...


.
“a luz
não pode ver uma fresta
que ela penetra e se escora
no escuro” 
Líria Porto
.
tumblr_mayvenRnYb1ray4fxo2_1280
.

I
a canção da palavra mais alta

o caminho das coisas
é uma distância
até a mais próxima subida
onde se esvai a vida escrita
fosse no começo da semana ou
um outro dia qualquer
faz-se o mesmo trajeto
sempre
a surpresa:
a palavra quando acaba
nunca chega ao seu
significante fim
  
II
dizem que poesia 
é cantar o que o amor 
ensina
mas existe a sina
da triste poesia
que canta o que o desamor
assassina
  
III
ansiedade reativa

prejuízos 
de memórias recentes:
nenhum aprendizado
precisaria
de pânico
.





das falhas...

.


"vou condenar a vida 
por passar rápido
e esquecer devagar..."
Julio Carvalho
 . 
átomo
. 
infalível

pessoas que debulham lágrimas
milho verde
grãos piedosos e pérolas falsas
nesse meio sou um estrangeiro
desaprendo-me continuamente
sou uma asa
para sobreviver
tenho muitos nomes
quando um desgasta, utilizo outro
sob um desses nomes amei alguém
uma única vez
um leve desequilíbrio
tão rápido quanto
fogo
em madeira sem lei
depois disso
nunca mais atravessei a porta de nenhuma paixão
e sempre
uma janela me convoca à invisibilidade
por isso
transito textualmente por aquilo que crio
como um modo de ir e rir
afinal de contas
o coração é só um músculo
poético:
esse engolidor danado
de facas
sentimentais
.